Acidentes são a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos de idade no Brasil. Análise dos dados mais recentes do DATASUS, do Ministério da Saúde, indica que 3.165 meninos e meninas morreram, em 2019, e outras 105 mil crianças foram hospitalizadas, em 2020, por causas acidentais. Em comparação aos anos anteriores, houve redução de 4,6% nos óbitos e 7% nas internações.
“A queda nos números de acidentes é algo importante, mas todos os dias, 8 crianças morrem e outras 288 são hospitalizadas por causas acidentais no Brasil. É um grande impacto na vida de tantas famílias, levando-se em conta, principalmente, que a maioria dos acidentes poderiam ser evitados com medidas de proteção e maior prevenção”, destaca Erika Tonelli, coordenadora geral do Instituto Bem Cuidar, unidade meio da Aldeias Infantis SOS para a gestão do conhecimento e responsável pela continuidade do legado da ONG Criança Segura.
Para a Aldeias Infantis SOS, que atua desde 1967 no cuidado de crianças, jovens e adolescentes a transferência do legado intelectual da Criança Segura é uma oportunidade para ampliarem a atuação. “Somos uma organização que trabalha com a promoção do direito de viver em família, com a garantia de um cuidado de qualidade e com o desenvolvimento de entornos seguros e protetores para crianças, adolescentes e jovens e a redução de acidentes é um aspecto fundamental deste contexto”, completa Erika.
Acidentes na pandemia
Entre Janeiro e Dezembro de 2020, 105.060 crianças de até 14 anos foram hospitalizadas em decorrência de acidentes, sendo que as maiores vítimas foram meninos e meninas de 5 a 9 anos (35,6%), seguida dos de 10 a 14 anos (32,8%), 1 a 4 anos (26,6%) e menor de 1 ano (5%).
Entre as principais causas de internação estão a queda (44%), queimadura (19%) e trânsito (10%) – todas apresentaram diminuição quando comparadas a 2019. No entanto, casos de intoxicação, afogamento e sufocação cresceram 8%, 7% e 6%, respectivamente.
Para a coordenadora geral do Instituto Bem Cuidar, não ter ocorrido um aumento no número de internações especialmente em meio à pandemia de COVID-19 é uma conquista importante, uma vez que existia o risco de aumento de acidentes domésticos em razão da maior presença das crianças dentro de casa e do perigo do álcool líquido 70%, liberado para venda com a revogação da RDC nº46.
“O alerta dado por organizações que trabalham pela segurança e proteção das crianças no Brasil pode ter contribuído para a adoção de medidas de prevenção por pais e responsáveis. Por outro lado, também não descartamos que os acidentes em ambientes externos tenham diminuído com o isolamento social, como no caso da queda, que reduziu 12%, ou que a ida ao hospital em casos mais leves tenha sido evitada pelo medo de contaminação da COVID-19”, avalia Erika. Ela reforça que os números positivos não devem ser justificativa para diminuir a atenção com as crianças, principalmente em relação aos acidentes que registraram alta; e, pelo contrário, a proteção e a prevenção devem ser prioridades.
Mortes infantis por acidentes
Em 2019, 3.165 crianças de até 14 anos de idade perderam a vida devido aos acidentes. O trânsito continua sendo a principal causa acidental de morte, representando 29% do total, seguido por afogamento (26%) e sufocação (25%). Comparando com 2018, o número de óbitos por acidentes recuou 4,6%, sendo que as maiores reduções registradas foram nos casos de intoxicação (-32,2%), armas de fogo (-15,8%), queimadura (-10,5%) e trânsito (-9,2%). Os dois tipos de acidentes que aumentaram no período foram queda (+1,9%), depois de uma redução de 15,5% entre 2017 e 2018, e sufocação (+1,3%), pelo segundo ano consecutivo (+1,8% em 2018).
Em relação à faixa etária, o período da Primeira Infância (do 0 aos 4 anos) concentra a maior taxa de mortalidade por acidentes (54%).
Internações e Óbitos por acidentes de crianças de 0 a 14 anos
Tipos de Acidentes | Internação 2020 | Comparativo 2019 | Óbitos 2019 | Comparativo 2018 |
Queda | 44% (1ª causa) | -12% | 5% (5ª causa) | +1,9% |
Queimadura | 19% (2ª causa) | -5% | 6% (4ª causa) | -10,5% |
Trânsito | 10% (3ª causa) | -2% | 29% (1ª causa) | -9,2% |
Intoxicação | 4% (4ª causa) | +8% | 2% (6ª causa) | -32,2% |
Sufocação | 1% (5ª causa) | +6% | 25% (3ª causa) | +1,3% |
Afogamento | 0,2% (6ª causa) | +7% | 26% (2ª causa) | -3,8% |
Armas de fogo | 0,07% (7ª causa) | -2% | 1% (7ª causa) | -15,8% |
Outros | 22% | 6% |
Fonte:Datasus 2019 e 2020 /Análise Criança Segura 2021